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Frigorífico JBS  e Camargo Corrêa, aparecem como suspeitas em investigações da PF em doações de campanha 

Entre os maiores doadores da última campanha para o governo de Mato Grosso do Sul, em 2010, quando André Puccinelli (PMDB) foi reeleito, estão o Frigorífico JBS S.A. e a Construções e Comércio Camargo Corrêa, que aparecem como suspeitas em investigações da Polícia Federal em outras partes do país.

Assim como no restante do Brasil, Mato Grosso do Sul tem entre os maiores financiadores de campanhas políticas boa parte dos fornecedores que negociam de alguma forma com o poder público após as eleições. Além disso, vários dos empresários e conglomerados comerciais que oferecem dinheiro aos políticos acabam implicados em denúncias de corrupção.

Em 2010, ambas aparecem em primeiro e terceiro lugar no ranking de doação de dinheiro a comitês estaduais sul-mato-grossenses. A JBS S.A. doou R$ 2,7 milhões no total. Foram R$ 1,5 milhão para o PMDB, R$ 1 milhão para o PT e R$ 200 mil para o PSDB.

Já a Camargo Corrêa, campeã nacional de doações de campanha em 2010, doou no mesmo ano R$ 1,5 milhão em Mato Grosso do Sul: R$ 1 milhão ao PT e R$ 500 mil ao PSDB.

O frigorífico foi o terceiro maior doador nacional nas eleições de 2010. A Polícia Federal de Mato Grosso investiga o suposto relacionamento entre o presidente da empresa, Wesley Batista, e o grupo suspeito de participar de um esquema que envolvia o pagamento de precatórios com deságio, desvio de dinheiro público e pagamento de propinas. O caso foi revelado durante a Operação Ararath.

Em 2011, o Ministério Público Federal abriu uma investigação para apurar os aportes bilionários no valor de R$ 3,5 bilhões em compra de debêntures feita pelo BNDES.

A empresa Construções e Comércio Camargo Corrêa tem como escândalo mais recente a Operação Lava Jato, durante a qual o doleiro Alberto Youssef foi preso. Um consórcio formado pela empreiteira para a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, pagou R$ 29 milhões a empresas supostamente ligadas ao doleiro.

A Polícia Federal suspeita que parte do dinheiro tenha sido utilizada para o pagamento de propina a políticos e funcionários públicos.

Em 2009, durante a Operação Castelo de Areia, da PF, diretores da Camargo Corrêa foram presos e depois liberados sob suspeita de participação em um esquema de lavagem de dinheiro com supostos repasses ilícitos a políticos. Em 2011, no entanto, uma decisão do STJ anulou as provas da operação obtidas por meio de escutas realizadas pela PF.

Dez maiores em MS

Em Mato Grosso do Sul, a JBS aparece como a maior doadora a comitês, seguida da Imetame Metalmecanica Ltda., que trabalhou com a Votorantin e Eldorado em Três Lagoas, com repasse de R$ 2 milhões ao PT; em terceiro aparece a Camargo Corrêa e em quarto a Fertilizantes Fosfatados S/A Fosfertil, que doou R$ 1,1 milhão ao PMDB;

Na sequência aparece Etore Selvatici Cavallieri, proprietário da Imetame, que doou R$ 1 milhão ao PDT; o Banco Alvorada S.A., doador de R$ 600 mil ao PT e R$ 200 mil ao PMDB; Banco Bradesco, que entregou R$ 300 mil ao PT e R$ 300 mil ao PMDB; Vetorial Siderurgia Ltda., que doou R$ 500 mil ao PMDB; Marfrig Alimentos, doador de R$ 500 mil ao PMDB e Carvalho Hosken S.A. Engenharia e Construções, doador de R$ 500 mil ao PT.

Repasse aos candidatos

Cinco empresas se destacam pelo volume de dinheiro repassado diretamente aos candidatos nas eleições de 2010. João Roberto Baird, proprietário da Itel Informática, que manteve diversos contratos milionários com órgãos e autarquias estaduais, doou R$ 1,7 milhão diretamente a André Puccinelli.

A Camargo Corrêa, além de doar ao comitê, também repassou dinheiro aos candidatos. Delcídio do Amaral recebeu R$ 500 mil para sua campanha ao Senado; João Batista dos Santos ficou com R$ 160 mil para suplente de deputado federal e Antônio Carlos Biffi ficou com o mesmo valor para a campanha a federal.

Para deputado estadual, Londres Machado arrecadou R$ 160 mil, Pedro Luiz Teruel ficou com R$ 80 mil, Antônio Carlos Arroyo com R$ 80 mil e Paulo José Araújo Corrêa recebeu R$ 80 mil da construtora para sua campanha.

Etore Selvatici Cavallieri é o terceiro maior doador direto, com repasse de R$ 1 milhão a Vander Loubet para a candidatura a deputado federal. O pecuarista Antônio Moraes dos Santos doou R$ 950 mil para a campanha de André Puccinelli e a Bigolin Materiais de Construção distribuiu R$ 300 mil para Luiz Henrique Mandetta, deputado federal, R$ 220 mil para Carlos Marun a deputado estadual, R$ 200 mil para André Puccinelli e R$ 200 mil para o senador Waldemir Moka.

Investimento

Segundo o secretário-geral e fundador da ONG Contas Abertas, Gil Castelo Branco, as doações de campanhas no Brasil criam uma relação de promiscuidade entre as doadoras, partidos e políticos. Não é doação, é investimento. Existem estudos que indicam que, de cada R$ 1 doado em campanha, as empresas conseguem outros R$ 8,5 em contratos públicos, diz Castelo Branco.

A legislação eleitoral brasileira permite que empresas privadas façam doações a candidatos e partidos políticos com limite imposto de 2% do faturamento. As principais exceções são empresas concessionárias de serviços públicos como operadoras de telefonia, rodovias e de serviços de saneamento básico.

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