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Políticos tinham despesas pagas pelo esquema fraudulento de João Amorim

Investigações da operação Lama Asfáltica mostram que cada um dos envolvidos tinha um papel a desempenhar no esquema de superfaturamento de obras públicas e fraudes em contratos em Mato Grosso do Sul. O relatório da Polícia Federal também revela como o grupo fazia favores e até pagava despesas pessoais para políticos.

À TV Morena, o dono da Tai Tecnologia, João Batista Lopes Filho, disse que não se lembra de ter se encontrado com Elza Amaral para tomar café e que nunca participou de qualquer esquema ilegal com o grupo de João Amorim. 

O ex-governador André Puccinelli (PMDB) confirmou, na semana passada, que usava o avião, mas que pagava o combustível nas viagens. O ex-prefeito de Campo Grande Nelson Trad Filho (PMDB), Nelson Trad Neto, Elza Amaral, Rômulo Menossi, Luciano Dolzan e o advogado Benedicto de Figueiredo, que representa João Amorim e a esposa dele, não atenderam as ligações.

O empreiteiro João Amorim formou uma rede de proteção para fraudar contratos e obter vantagens financeiras junto ao governo do estado e prefeituras. Esta é a opinião dos investigadores da operação Lama Asfáltica. Se cercar de pessoas de confiança foi a forma que ele encontrou para distribuir tarefas e movimentar o esquema. Uma dessas pessoas é a secretária Elza Amaral.

De acordo com o relatório da PF, Elza é a operadora financeira do empreiteiro. Ela ficou conhecida entre servidores públicos e empresários ligados ao grupo como a mulher do cafezinho. Para a polícia, café quer dizer propina.

Elza: E o senhor vai estar na cidade até quando?

João Batista: Não, amanhã, até amanhã, né? Que eu vou...

Elza: Até amanhã?

João Batista: É.

Elza: Então tá, eu vou ver se consigo (incompreensível) para a gente tomar um café.

João Batista Lopes Filho é dono da Tai Tecnologia e foi coordenador do escritório político do ex-deputado federal e ex-secretário estadual de Obras Públicas e de Transportes, Edson Giroto. Em outra ligação, Elza fala com um servidor ainda não identificado pela polícia, conhecido como Marquito, mas que também tomou o tal café.

Marquito: Seu chefe está em Campo Grande?

Elza: Ele tá mas eu não vi ele ainda. Você tentou ligar na casa dele?

Marquito: Consegue pedir para ele retornar aqui no doutor?

Elza: Claro, claro. Pode deixar.

Marquito: Você vem nos visitar?

Elza: Olha tá programado para amanhã tomar um café com você.

A polícia montou o organograma dos envolvidos no esquema. Na cabeça de todas as atividades, o empreiteiro João Amorim. Elza Amaral é a operadora financeira. Ela negocia contratos, paga despesas e até propinas. O braço operacional é Rômulo Menossi, engenheiro chefe da Proteco. Ele influencia a escolha dos fiscais que vão fazer a medição das obras e aprovar pagamentos. Os investigadores acreditam ainda que parte dos bens de Amorim está em nome de laranjas. João Baird, dono da Itel, empresa responsável pela informática da prefeitura de Campo Grande, tem um jatinho em seu nome. João Amorim seria o verdadeiro dono da aeronave.

 

Outro braço de João Amorim é o genro dele, Luciano Dolzan, sócio da LD Construções. Segundo a polícia, Dolzan não comanda de fato a empresa. A LD é uma das donas do consórcio CG Solurb, responsável pela coleta de lixo de Campo Grande, que vai receber, em 25 anos, R$ 1,3 bilhão. Os investigadores acreditam que João Amorim seja dono de mais de 40 empresas, todas em nome de terceiros.

Além dos negócios com o poder público, João Amorim também fazia muitos favores a políticos de Mato Grosso do Sul. Conforme o MSTV 2ª Edição mostrou na semana passada, o empreiteiro emprestava com frequência o jatinho para viagens do ex-governador André Puccinelli (PMDB). A PF chegou a gravar o político embarcando na aeronave. Outro que usava o avião de Amorim era Nelson Trad Filho (PMDB), ex-prefeito de Campo Grande. 

A transcrição de um telefonema feita pela PF mostra que a esposa do empreiteiro reclama que não vai poder fazer uma viagem já programada porque a aeronave ia ser emprestada ao ex-prefeito.

Amorim: Oi, Cris!

Cristina: Oi, tudo bem?

Amorim: Tudo!

Cristina: Pode falar?

Amorim: Posso!

Cristina: Duas coisas, primeiro, é segunda classe, é segunda classe... amanhã o Nelsinho quer o avião uma hora, eu vou ter que sair de lá 11 e meia no trote sem comer...

Amorim: Não... azar seu de ser segunda classe, ponto, segunda...

Cristina: É, isso é muito ruim, né? Eu não quero mais ir... ficar sozinha...

Amorim: Hahaha...

Cristina: Hahaha...

Amorim: Tá bom... quer mais?

Cristina: A gente é muito desprestigiada, quer dizer, eu marco com uma semana de antecedência, deixo agendado...

Amorim: É, mas... É, mas, é...

Cristina: Chega alguém...

Amorim: Mas, você começou... com o resumo... segunda classe, pronto!

Cristina: Hahaha... é, segunda classe é... não sou eu, tá? Hehehe... Bom, então tá. Segunda coisa é que eu já resolvi aquele probleminha lá em nome nosso quarto, tá tudo ok, tá?

O empréstimo do avião era só um dos favores feitos por João Amorim a Nelson Trad Filho. Em telefonemas gravados pela PF, Elza Amaral recebia pedidos para pagar despesas do ex-prefeito. Nos telefones, fica claro que a liberação do dinheiro dependia de autorização do patrão, João Amorim.

Em dezembro de 2014, uma secretária particular de João Amorim telefona para ele e informa que há despesas de Nelson Trad Filho a serem pagas pelo empreiteiro. Ela diz que ele está devendo a algumas pessoas, a quem chama de guardinhas.

Sandra: Patrão, boa tarde.

Amorim: Boa tarde. E aí?

Sandra: Cê já esqueceu dos guardinhas, patrão? Eles são todos seus. Eu sei que eu tô te enchendo o saco, mas eu de verdade, tô incomodada com a situação deles, porque eles não tem nada a ver com isso.

Amorim: Como? Quem que tá devendo?

Sandra: O seu ex-cunhado (Nelsinho Trad). Ele não pagou ninguém que tinha que pagar, João.

Elza é quem cuida dos pagamentos e também fala com Sandra, e reclama.

Elza: É que ontem, na hora que você ligou para o neto (Nelson Trad Neto - filho do ex-prefeito), ele disse: eu tô numa reunião importante te ligo depois.

Sandra: Falou.

Elza: Ele tava comigo. Porque a gente realmente tava discutindo algumas coisas que eu fui muito categórica pra ele, eu falei: Neto, eu tô aqui tentando resolver uma situação pessoal de vocês, só que eu não resolvo se não tiver o OK do dr. João (Amorim), é assunto financeiro, o dinheiro não é meu, o caixa não é meu.

Sandra: É verdade.

Elza: Sabe, então tô aqui para ajudar, mas desde que eu tenha uma ordem do Dr. João.

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