Buscar

Antes de ser lutadora, Bethe já quis serastronauta, dançarina e cantar ópera

Desafiante ao título do peso-galo do Ultimate, brasileira optou pelo MMA aos 28 anos, mas antes fez a família sofrer com sua voz: Eu era horrível. Cantava Pavarott

Hoje Bethe Correia é a desafiante ao título do peso-galo do Ultimate e fará a luta principal do UFC 190, neste sábado, no Rio de Janeiro. Entretanto, sua história poderia ter percorrido caminhos bem diferentes. A opção pelas artes marciais veio apenas aos 28 anos e, aos 32, ela agora é protagonista de um evento da maior organização de MMA do mundo. Antes disso, chegou a sonhar com carreiras de astronauta, dançarina e, acreditem, cantora de ópera.

- Já quis ser veterinária, astronauta, dançarina do ventre, do É o Tchan, quis ser médica, me formei em contabilidade, quis ser cantora de ópera... Minhas irmãs tampavam os ouvidos. Eu passava o dia inteiro cantando ópera, Pavarotti, era horrível porque não sei cantar. Minha família sofreu com as minhas mutações até eu descobrir o que realmente era. Acho que nasci lutadora, mas demorei a descobrir isso - revelou, durante o Media Day do UFC Rio 7, nesta quinta-feira, em um hotel na Zona Sul do Rio de Janeiro.

Sobre o embate contra Ronda, Bethe decretou: é a maior rivalidade da história do MMA feminino, acima das que a americana tem com Miesha Tate ou Cris Cyborg.

- Nunca teve uma repercussão tão grande como essa. A Cris Cyborg tem essa rivalidade com a Ronda, tem a da Miesha também, mas nenhuma delas chegou na proporção que está, da Ronda ter ódio de mim. É uma novela real que está acontecendo e todos querem ver o final dela, o resultado disso tudo. Até eu quero ver o resultado - analisou.

CONFIRA A ENTREVISTA DE BETHE CORREIA:

Você foi bem recebida no treino aberto, mas a entrada da Ronda foi uma verdadeira catarse, com direito ao nome gritado. O que achou? Teme que a torcida se divida no sábado?

Bethe Correia: Eu não tenho raiva do povo brasileiro. Eles têm o direito de escolher por quem torcer e gritar, mas sei que quando eu for campeã eles vão ficar muito felizes e me aplaudir. O Brasil merece uma campeã, sei o que o Brasil passa e eles merecem alguém que sente as mesmas dificuldades sendo campeã. É normal eles torcerem pelos heróis americanos. A Ronda tem a imagem de heroína, já fantasiam ela assim no Brasil. Não têm nenhuma heroína que os represente. O Brasil é muito carente e se apega nisso. Confio no Brasil, sei que vão torcer por mim. Chamo todos os brasileiros para torcerem por mim. O Brasil merece uma campeã daqui, uma representante daqui, alguém que lute por aqui. Quero usar minha fama em prol do povo brasileiro. Sei que na arena todos vão torcer por mim. A Ronda e os americanos só querem curtir, passar férias, tomar caipirinha, mas não sabem o que o Brasil vive, nossas dificuldades, nossa pobreza. Não sabem o que é treinar com equipamento enferrujado. Eles têm toda a tecnologia.

Qual foi o dia mais difícil na carreira?

Foi quando fui convocada para o UFC e treinava numa academia que era uma salinha. Ia lutar com a Julie Kedzie, veterana, com 10 anos de MMA, treina na academia do Greg Jackson, que é uma das melhores do mundo, e eu numa salinha pequena, com um tatame cheio de buraco. Ralava o joelho o tempo inteiro, torcia o pé nos buracos, tinha uma grade enferrujada e um saco de pancadas furado. Eu, novata no MMA, tive que me preparar para vencer uma veterana nessas condições. Foi um desafio muito grande para mim.

Ganhando o cinturão, como vai ser a comemoração do título?

A comemoração será com o povo. Eu sou do povo. Quero ver a minha família, ir para Campina Grande, dar um abraço no meu pai e na minha mãe. Nunca vi meu pai e minha mãe sofrerem tanto na vida como sofrem desde que decidi ser lutadora de MMA. Eles nunca mais dormiram em paz (risos). Sofrem muito. Quero pegar o cinturão, dar um abraço neles e falar: Estou bem, estou feliz.

A mãe da Ronda disse que deseja que a filha vença de forma rápida e sugeriu que quebre seu braço. Como recebeu essa declaração?

Engraçado que a minha mãe falou a mesma coisa. Por favor, termine a luta em 10 segundos, nocauteie e quebre o queixo dela. Isso é coisa de mãe. Mãe não quer ver a filha apanhando, se machucando, e a mãe da Ronda tem a mesma preocupação. É mais fácil você derrubar alguém e terminar rápido, na chave de braço, assim sai sem qualquer machucado. Minha mãe quer que eu chegue, dê o primeiro murro, a Ronda caia, eu fique bem e volte para os braços dela. É normal.

Acredita que a ida da Ronda em direção aos fãs no treino aberto foi uma forma de querer te deixar com ciúmes do carinho que o público demonstrou com ela?

Se ela falou que quer me humilhar no meu país, a primeira coisa que ela vai querer fazer é jogar o povo brasileiro contra mim. Qual a melhor forma de fazer isso? Com lorotas, falando, fingindo que ama o país. Como ama se nunca viveu aqui, só veio aqui competir? Nunca passou férias, não sabe o que é o Brasil, não conhece como eu conheço. Não tive ciúmes, estou muito preparada para isso, sei o que é o Brasil, como o povo é revoltado. Eu me revolto com o que acontece na política. Desejaria que o Brasil tivesse a política bonita, saúde, educação, esporte para todos, investimento no esporte. Isso me revolta tanto que me dá vontade de desistir às vezes, mas não desisto. Entendo a revolta do povo. Às vezes se revoltam por isso e às vezes é mais fácil abraçar o que aparenta ser bonito, ser perfeito. A imagem que eles têm da Ronda é essa.

Como é, pela primeira vez, lidar com o fato de ser uma das protagonistas de um evento do UFC?

Batalhei por isso, mereci isso. Não vejo de outra forma. Quem me critica e acha que não era a minha hora, está muito enganado. Não tem nenhuma menina no momento que mereça mais do que eu essa disputa de título. Gosto disso, nasci para isso e quero ser diferente. A responsabilidade é muito grande e tenho consciência disso.

Ronda é a maior favorita do UFC 190. Como vê isso?

É normal, ela ganha prêmios, títulos, imagem, estão tentando implantar ela como uma super humana, mas é só propaganda, marketing em cima dela. Só dela ser campeã, já é favorita. Quando eu for a campeã no sábado, (na próxima luta) vou ser a favorita. É normal. Mas sei que domingo de manhã teremos muitos novos ricos, porque quem apostou em mim vai acordar com o bolso cheio. Só peço uma flor pelo menos de presente (risos).

Essa não é a primeira grande rivalidade que acontece no Ultimate. Anderson e Sonnen, por exemplo, tiveram atitudes amistosas após a luta. Vê isso acontecendo com você e Ronda?

Homem leva as coisas mais na brincadeira. Mulher não brinca não. São mais sinceras com os sentimentos, levam mais a sério, tem uma rixa maior com outra mulher. Não sei se pelo fato de as academias serem carentes de mulheres, e homens sempre treinarem com homens. Quando tem outra mulher no território, a mulher já fica instigada. Quer sempre ser a melhor, a mais bela, mulher é mais vaidosa. Homem é mais parceirão. Acredito que, quando acabar a luta, ainda não estará tudo resolvido. Quando transmito muita raiva nos treinos pela adversária, não acaba na luta. Demora um pouco mais. Com o tempo isso passa.

Acredita que essa rivalidade entre vocês vá se prolongar por mais lutas?

Não sei como vai ser depois dessa luta, se os ânimos vão se acalmar, se estará tudo resolvido, ela bem comigo, e eu com ela. Não sou uma pessoa de guardar mágoa. Tenho o coração muito bom, mas se continuar mexendo comigo, teremos mais lutas sim. Não levo desaforo pra casa, não engulo sapo, é minha característica, característica do povo brasileiro. Ninguém quer ser mais humilhado, passar por mais dificuldades, já basta a vida ser difícil. Sou aguerrida mesmo. Se me tratar bem, trato bem também

Qual a maior rivalidade da história do MMA feminino? Ronda e Miesha, Ronda e Cris Cyborg ou Ronda e Bethe?

Com certeza sou eu e a Ronda. Nunca teve uma repercussão tão grande como essa. A Cris Cyborg tem essa rivalidade com a Ronda, tem a da Miesha também, mas nenhuma delas chegou na proporção que está, da Ronda ter ódio de mim. É uma novela real que está acontecendo e todos querem ver o final dela, o resultado disso tudo. Até eu quero ver o resultado.

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.